Arché
Escreve José Américo Motta Pessanha:
Os deuses homéricos são fundamentalmente deuses da luz (de díos provém tanto “deus” quanto “dia”) e seu antropomorfismo não diz respeito apenas à forma exterior, semelhante à dos mortais: os deuses são também animados por sentimentos e paixões humanas. A humanização do divino aproxima-o da compreensão dos homens, mas, por outro lado, deixa o universo — em cujo desenvolvimento os deuses podem intervir — suspenso a comportamentos passionais e a arbítrios capazes de alterar seu curso normal. Isso limita o índice de racionalização contido nas epopéias homéricas: uma formulação teórica, filosófica ou científica exigirá, mais tarde, o pressuposto de uma legalidade universal, exercida impessoal e logicamente. Então, abolindo-se a atuação de vontades divinas divergentes, chegar-se-á a um divino neutro imparcial: a divina arché das cosmogonias dos primeiros filósofos. 1
Footnotes
-
Transcrito a partir do livro Os Pensadores - Os Pré-socráticos (Editora Abril - 2ª edição, 1978), páginas X e XI. ↩