Anaximandro de Mileto

Nasceu em 610 a.C., em Mileto, Grécia (região atualmente pertencente à Turquia). Morreu em 546 a.C.

Discípulo e sucessor de Tales, é considerado o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o cosmos. Para explicar a origem do universo e de todos os seus elementos, elaborou o conceito de Ápeiron, algo indefinido e ilimitado que subjazeria a natureza de todas as coisas. Este seria, portanto, seu Arché, palavra grega que expressa a origem única de tudo que existe.

Teria escrito uma obra chamada Sobre a natureza, porém esta obra se perdeu, restando apenas referências feitas por filósofos posteriores.

Anaximandro fez também estudos de geografia e astronomia e ocupou cargos administrativos em Mileto.

Trecho de Simplício sobre Anaximandro de Mileto:

Foi o primeiro a introduzir o termo princípio. Diz que este não é a água nem algum dos chamados elementos, mas alguma natureza diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos: ‘Donde a geração… do tempo’. 1

Nietzsche, em A Filosofia na Época Trágica dos Gregos, chama Anaximandro de “o primeiro escritor filosófico”:

Enquanto o tipo universal do filósofo, na imagem de Tales, como que apenas se delineia de neblinas, já a imagem de seu grande sucessor nos fala muito mais claramente. Anaximandro de Mileto, o primeiro escritor filosófico dos antigos, escreve como escreverá o filósofo típico, enquanto solicitações alheias ainda não o despojaram de sua desenvoltura ou ingenuidade: em inscrições sobre pedra, estilo grandioso, frase pro frase, cada uma testemunha de uma nova iluminação e expressão do demorar-se em contemplações sublimes. O pensamento e sua forma são marcos de milha na senda que conduz àquela sabedoria altíssima. Nessa concisão lapidar, diz Anaximandro uma vez: ‘De onde as coisas têm seu nascimento, ali também devem ir ao fundo, segundo a necessidade; pois têm de pagar penitência e de ser julgadas por suas injustiças, conforme a ordem do tempo’. 2

Outro trecho do mesmo livro de Nietzsche:

Tales mostra a necessidade de simplificar o reino da pluralidade e reduzi-lo a um mero desdobramento ou disfarce da única qualidade existente, a água. Anaximandro o ultrapassa em dois passos. Pergunta-se, da primeira vez: ‘Mas, se há em geral uma unidade eterna, como é possível aquela pluralidade?’, e deduz a resposta do caráter contraditório dessa pluralidade, que consome e nega a si mesmo. Sua existência se toma para ele um fenômeno moral, que não se legitima, mas se penitencia, perpetuamente, pelo sucumbir. Mas, em seguida, ocorre-lhe a pergunta: ‘Por que, então, tudo o que veio a ser já não foi ao fundo há muito tempo, uma vez que já transcorreu toda uma eternidade de tempo? De onde vem o fluxo sempre renovado do vir-a-ser?’ Ele só sabe salvar-se dessa pergunta por possibilidades místicas: o vir-a-ser eterno só pode ter sua origem no ser eterno, as condições para o declínio daquele ser em um vir-a-ser na injustiça são sempre as mesmas, a constelação das coisas tem desde sempre uma índole tal que não se pode prever nenhum término para aquele sair dos seres isolados do seio do ‘indeterminado’. Aqui ficou Anaximandro: isto é, ficou nas sombras profundas que, como gigantescos fantasmas, deitam-se sobre a montanha de uma tal contemplação do mundo. Quanto mais se procurava aproximar-se do problema - como, em geral, pode nascer, por declínio, do indeterminado o determinado, do eterno o temporal, do justo a injustiça -, maior se tornava a noite. 3

Footnotes

  1. Transcrito a partir do livro Os Pensadores, Vol. I - Os Pré-socráticos (Editora Abril - 1ª edição, agosto de 1973), página 21. Tradução de Wilson Regis.

  2. Transcrito a partir do livro Os Pensadores, Vol. I - Os Pré-socráticos (Editora Abril - 1ª edição, agosto de 1973), página 23. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho.

  3. Transcrito a partir do livro Os Pensadores, Vol. I - Os Pré-socráticos (Editora Abril - 1ª edição, agosto de 1973), página 25. Tradução de Rubens Rodrigues Torres Filho.

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